Que cerveja é essa? Orval
Já conversamos em várias ocasiões sobre cervejas produzidas por ordens religiosas, pioneiras em controle de qualidade sobre seus produtos.
Mas o que o confrade talvez desconheça é que existe uma “tropa de elite” das cervejas monásticas: são as cervejas trapistas.
Costuma ser ponto pacífico entre os connoisseurs da cerveja que alguns dos melhores rótulos do mundo estão entre as trapistas.
E todo o ritual desde a conquista do selo “Authentic Trappist product” até como servi-las adequadamente, que torna a sua mística ainda mais envolvente.
Vamos conhecer um pouco mais sobre o que credencia uma cerveja como trapista enquanto falamos sobre um de seus rótulos mais incríveis: a Orval.
Estrita Observância. Sobre a cerveja, inclusive.
O primeiro passo para definir uma cerveja como trapista é que ela precisa ser manufaturada em um templo da Ordem Cisterciense da Estrita Observância, ou simplesmente Ordem Trapista.
Ordens que exigem de seus monges, além de votos de pobreza, humildade, silêncio e obediência, o sustento dos mosteiros com os frutos de seu trabalho.
Muitos deles comercializam pão, carne, mel, queijo, licor, espumante, chocolate, cosméticos… e cerveja, obviamente.
E embora existam 171 mosteiros trapistas pelo planeta, muitos deles produzindo cerveja, apenas 11 podem carregar o selo de autenticidade no rótulo – Já que precisam obedecer as regras a seguir:
– A cerveja trapista deve ser fabricada dentro das paredes do mosteiro da Ordem, pelos próprios monges ou sob a sua supervisão;
– A cervejaria deve ser subordinada ao mosteiro e deve ter uma cultura econômica adequada ao cotidiano da vida monástica;
– A cervejaria trapista funciona sem fins lucrativos. Os recursos são destinados ao sustento dos monges e à preservação da abadia. O excedente é doado a pessoas carentes ou investido em causas sociais;
– A cerveja trapista é de uma qualidade impecável, que exige um constante controle.
Entendeu, confrade, por que é tão difícil se queixar do produto final?

Matilde
Reza a lenda que certa feita, na Bélgica, a condessa e militar italiana Matilde de Canossa, também chamada Matilde de Toscana, caçava na região de Villers-Devant-Orval quando acidentalmente deixou o seu anel cair numa fonte.
Depois de infrutíferas tentativas de reaver o anel, ela vai a uma capela próxima e põe-se a orar.
Ao retornar à fonte, de lá salta miraculosamente uma truta com a joia perdida em sua boca.
A lenda tornou o local famoso, a ponto da fonte de Orval também ser conhecida como “Matilde”.
E é justamente dessa fonte que os monges trapistas do local extraem a água para a produção de sua cerveja turva, seca e aromática, que atualmente é refermentada com a adição do microorganismo Brettanomyces e sofre um dry-hopping na maturação, o que confere um leve amargor extra.
Seu conjunto equilibra açúcar queimado, herbal, cítrico e damasco.
Como toque final, faz uma homenagem ao milagre envolvendo a condessa.
Em seu rótulo figura o mítico peixe com o anel em sua boca que trouxe tanta evidência à região.
Notas
Particularmente, é difícil eu pedir outra cerveja quando eu sei que existem Orval disponíveis.
Prová-la é um excelente início às cervejas mais complexas.
Como quase todas as trapistas, ela é um ame-o ou deixe-o.
Mas com certo treino no palato (também chamado de hora/copo), a Orval pode lhe proporcionar tantas descobertas a cada vez que você a bebe de novo que é irresistível não fazê-lo!
Ein prosit!
Já conhece a Orval? Ficou com vontade de conhecer, ou provou depois de ler nossa coluna? Tem dicas de lugares para encontrá-la, ou de alguma harmonização interessante? Não deixe de postar seu comentário neste nosso espaço de divulgação da cultura cervejeira.
E então, Que cerveja é essa?
Nome: Orval
Cervejaria: Brasserie d’Orval
País de origem: Bélgica
Estilo: Trappist Ale
Álcool: 6,2% ABV
Harmonização: Peixe, risoto de limão siciliano, shiitake.
Temperatura ideal: 8 – 12 °C
Copo: Cálice Trapista
Média de preço: R$ 30-40 (Garrafa de 330 ml)
Onde encontrar: em lojas de cervejas especiais, pubs e delicatessen.
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Parabéns, Breno!!!! Excelente!!
Valeu Brenão