A roda pequena, finalmente, entrou na roda grande
“O velho mundo agoniza; o novo mundo tarda a nascer, e, nesse claro-escuro, irrompem os monstros”. Essa frase do filósofo italiano Antonio Gramsci veio-me à cabeça após os acontecimentos dos últimos dias. Melhor, dos últimos meses.
Gramsci, como é do conhecimento geral, enfrentou o fascismo e por isso pagou um preço altíssimo, vindo a morrer na prisão. Viveu parte da vida sob Mussolini. Sabia muito bem do que estava falando.
Eu não tenho dúvida e tenho comentado isso com amigos, que estamos assistindo uma escalada de violência da direita inédita desde os idos das décadas de 1960 e 1970, quando vigorava no país uma ditadura militar.
Esse processo culminou ontem com a grotesca invasão da Câmara Federal por um punhado de celerados pedindo “intervenção militar”. Ainda essa semana ocorreu a morte do jovem estudante no Paraná pelo pai, que não concordava com suas idéias políticas, e a agressão ao jornalista Caco Barcellos durante manifestação no Rio.
Isolados, descontextualizados, esses episódios de violência e intolerância, podem parecer inexpressivos ou incapazes de causar preocupação.
Contudo, quando somados e misturados à crise político- institucional porque passa o país deveria preocupar qualquer um que preze a Democracia, à direita, à esquerda e ao centro, e que não seja tão ignorante quanto uma das mulheres que invadiu o parlamento e confundiu a bandeira do Japão com um símbolo do comunismo.
Não me incluam, por favor, entre os que escarnecem dos ignorantes. E o mundo parece que mais uma vez vive um daqueles momentos em que eles dão as cartas.
As vitórias de Crivella e Dória; do não na Colômbia ao acordo das Farc com o governo; do Brexit, no Reino Unido; e de Trump, nos Estados Unidos são provas cabais de que não é de todo despropositado acreditar que a roda grande, finalmente, entrou na roda pequena.
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