Do verbo jazer
Imagem de capa: “Human Canvas Study Clay Study”, de Art Wolfe
Aqui jaz um país. Aqui jaz um país onde as pessoas são divididas entre petralhas e coxinhas. Entre esquerdopatas e fascistas. Entre quem sonha com a volta de uma esquerda fortalecida e por quem torce por um psicopata, militarista, homofóbico e misógino que eu me recuso a falar o nome, sob qualquer circunstância.
Aqui jaz um lugar sem jazz e muito Wesley Safadão.
Jaz um lugar entre quem luta por uma escola que ensine a pensar e aqueles que querem as escolas sem pensamento crítico e capacidade de reflexão.
Jaz um país dividido entre paulistas e o resto dos brasileiros; entre Moro, Miami, CIA e a Justiça. Entre políticos do Congresso e o povo brasileiro.
Jaz uma delação premiada que fala para um Congresso surdo e uma Justiça cega quem são os principais propinados. Entre o direito de se defender e os abusos do Judiciário.
Aqui jaz um país onde a condução coercitiva vale para o Lula mas não vale para o Cunha. Entre os que têm direito ao Bolsa Família e os que têm direito a auxílio moradia e auxílio paletó.
Jaz uma fila de trabalhadores que labutarão até a morte e os empregados fantasmas das Assembleia Legislativas, Câmara de Vereadores e suas verbas de gabinete.
Aqui jaz um lugar sem jazz e muito Wesley Safadão.
Menos universidades, mais casamentos
Aqui jaz um Estado onde a universidade pública estadual merece menos atenção das mídias que o casamento da filha do governador. Quiçá merece menos investimentos.
Aqui jaz uma cidade turística, onde as praias só recebem maquiagem para disfarçar suas crateras e a invasão do mar. Jaz um mar que recebe o esgotamento dos hotéis de luxo da Costeira. Jaz uma cidade que toca axé, banhada de suor e cerveja durante o Carnatal, essa festa privada que é financiada com dinheiro público.
Aqui jaz um gulag intelectual onde só entra quem cabe na panela. Mesmo que para isso nem precise saber ler e escrever. Nesse, também cabe um gulag de poetas e críticos.
Aqui defuntam nomes como Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Luiz Felipe Pondé, baloiçando a bandeira neo-liberal e, do outro lado, cadáveres como Marilena Chauí e seu ódio detector de classe média e Ruy Fausto, com suas teorias voltadas contra “efeagácê”.
Aqui jaz os que pagam impostos e os grandes sonegadores. No meio deles, gente que reclama da corrupção, mas faz gato da energia elétrica, fura fila, estaciona em vaga de idosos, faz fila dupla, avança o sinal vermelho e depois dá propina aos guardas de trânsito.
Aqui se faz um réquiem a 2017. Antecipo-me nos pêsames a o que ainda está por vir.
Comentários