A cor do rouxinol (ou da cotovia)
Caros amigos:
François Silvestre optaria por ser chamado de negro se se considerasse negro. Nos EEUU, neto de negra, ele já é negro (ou afro-descendente). No Brasil, podemos chamá-lo de negro-descendente pois o afro-descendente não colou muito entre nós. Mas ele tem total razão num aspecto: nem todo negro é afro-descendente pois nem todo negro-pai é originário da África. Os filhos de soldados negros ianques com mulheres japonesas, no segundo pós-guerra, não eram afro-descendentes, eram ianque-descendentes. Designações sobre as cores das pessoas não significam essências delas. Lilia Schwarcz, no ensaio “Nem preto nem branco” (iincluído no livro que ela coordenou “Contrastes da intimidade contemporânea”, (quarto e último volume da série “História da vida privada no Brasil”), arrola 136 designações de cor das pessoas no Brasil, como alva-escura, amarela-queimada, amorenada, azul-marinho, baiano, bem morena, branca-suja, bugrezinha-escura, burro quando foge, café, canela, castanha-escura, chocolate, cor-de-café, cor-de-canela, crioula, escura, jambo, marrom, meio-preta, morena-bem-chegada, morena-fechada, mulata negra, negrota, parda, quase-negra, retinta, tostada, turva… Qual delas eu preferiria para mim? Acho que qualquer uma que incluísse minhas outras dimensões além da cor. Porque aquele diálogo de “Romeu e Julieta” sobre ser rouxinol ou cotovia já diz tudo.
Beijos para todos: