A Festa do Bode
A Festa do Bode, do escritor peruano Mário Vargas Llosa (Prêmio Nobel de Literatura), é um romance histórico envolvendo a ditadura da República Dominicana, que durou pouco mais de 30 anos.
O livro se baseia em três perspectivas principais: a do próprio ditador, Rafael Trujillo; a de Urania, filha de um dos principais apoiadores do regime, Agustín Cabral (o Cranito); e, por fim, a perspectiva apresentada a partir do olhar de alguns rebeldes do regime.
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Esta obra de Llosa é marcante porque nos remete a fatos históricos mesclados a elementos ficcionais. Particularmente, tornou-se o meu livro favorito do escritor devido à urdidura da narrativa, em que as características políticas do regime ditatorial são pessoalizadas perante as histórias de cada personagem.
A trama inicia-se imediatamente com Urania, que mora há anos nos Estados Unidos e guarda um segredo terrível relacionado àquele momento político, motivo pelo qual não fala com seu pai há mais de três décadas.
A personagem volta à República Dominicana, e esse retorno trará consigo memórias de um passado não muito distante. Acredito que a história de Urania seja o grande enigma do livro.
A brutalidade de trujillo

Por outro lado, é incrível (e, simultaneamente, chocante) deparar-se com a figura tirana de Rafael Trujillo, ora chamado de Generalíssimo, Benfeitor, Chefe, ora visto, por muitos, como o grande redentor da República Dominicana.
Trujillo desenvolve um verdadeiro culto à personalidade (a histórica capital Santo Domingo passa a se chamar Trujillo em sua homenagem) e uma rede de manipulação e vigilância na qual qualquer traição seria duramente reprimida, razão por que a ditadura dominicana tornou-se uma das mais sangrentas da América Latina.
A narrativa centrada nos rebeldes demonstra como o regime invadiu suas vidas, ceifou a sua liberdade e quais as consequências advindas dessa insurgência.
Trata-se de um livro rico, indispensável à compreensão de elementos tipicamente latino-americanos: autoritarismo, repressão, violação a direitos humanos e até a transição “lenta e gradual” rumo à democracia.
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