Amor e ódio em um show de George Michael
Lá estava eu, prestes a atravessar a rua, esperando o sinal abrir, pronto e bastante entusiasmado para assistir meu primeiro show de George Michael.
Enquanto esperava o sinal ficar verde, pensava na minha canção favorita dele e revisava a letra e melodia na minha cabeça. Queria cantar junto!
De repente o sinal abre e vejo um tumulto do outro lado da rua. Em frente à entrada do estádio, havia um grupo de manifestantes com cartazes e megafones.

Enquanto cruzava a faixa de pedestre tentava compreender o que se passava. A princípio, pensei que eram funcionários do estádio insatisfeitos com as condições de trabalho.
Notei que era um grupo de 30 pessoas, composto de homens e mulheres de meia-idade. Com peito inflado, cheios de razão e gestos largos, falavam alto.
Quando finalmente cheguei perto deles, consegui distinguir os sons de suas vozes e ler os cartazes. Eis que eles ali estavam para protestar sobre a homossexualidade. Os cartazes atacavam e classificavam, como pecado grave, o amor gay. Fiquei surpreendido e ao mesmo tempo entretido pelo absurdo.
Os cristãos radicais estavam ali pra salvar almas perdidas ou para condená-las?! Na verdade, não sei. Claro que a provocação não passou despercebida e os casais gays agora se beijavam em frente dos protestantes.
Os cristãos falavam ainda mais alto e o público de George gritava num misto de orgulho por peitá-los e deboche pelo ridículo daquilo tudo. Tudo se passava em frente ao local do show de George Michael, que começaria em meia hora.
Desfile de hits
Ao entrar no estádio, os ânimos eram outros. Tudo era bem mais tranquilo e harmônico, porém excitante. Era 2008, em San Jose, e fazia 17 anos que George Michael havia se apresentado nos EUA. Fãs e curiosos esperavam ansiosamente pelo espetáculo.
Na platéia gays, mulheres e seus namorados. Um total de 18 mil pessoas lotavam o lugar. Muitos dos que estavam ali testemunharam várias etapas do sucesso iniciado nos anos 80.
Estes, talvez, até conhecessem suas posições políticas, envolvimento com drogas e escândalos sexuais. Porém havia também pessoas mais jovens que estavam lá atraídas pelo novo sucesso Amazing.
O show começou e o que se viu nas duas horas seguintes foi um show pop perto da perfeição: iluminação excelente, palco espaçoso, arranjos dançantes e harmônicos, que davam um toque de elegância às composições.
O talentoso compositor, aos 44 anos, parecia maduro e coerente com a idade. A voz continuava firme e afinada. Ainda assim, pediu desculpas à platéia por não estar mais na fase can can e continuou o desfile de hits e novas canções.
Apesar das desculpas, seus movimentos sensuais ainda estavam lá, sem excessos, e a platéia correspondia cantando juntos, com eventuais gritinhos.
George Michael celebrou a liberdade
Ao final, George Michael se despediu do palco e quando as luzes se acenderam todos ainda carregavam em si a energia celebratória daquele evento.
Vagarosamente as pessoas despertavam daquela experiência com um sorriso no rosto. Meio que em êxtase, a multidão fazia sua procissão em direção à saída.
Alguns dos versos ainda ressoavam nos corações dos presentes. Ouviam-se pessoas cantando baixinho trechos das canções, como Praying for Time: É tão difícil amar/ há tanto o que odiar … bem talvez devemos todos implorar por mais tempo.
Mas as últimas estrofes que ouvi da multidão foram os da música Freedom! ’90: “Eu vou me agarrar à minha liberdade/ Talvez não seja o que você quer de mim / Mas é como tem que ser … preciso viver”.
Enquanto isso, lá fora, protestantes, embora abundantemente alimentados pela intolerância, já haviam cansado de protestar. Esperavam o transporte, com cartazes dobrados, sem saber ao certo se a missão havia sido cumprida.
Bem lembrado Thiago Gonzaga! George Michael vem de uma geração de cantores que alcançaram o sucesso mundial apoiados pela última onda de força da industria musical, (anos 80 e 90). Depois de viver o auge do sucesso, confrontou a indústria fonográfica, e passou a tomar mais controle de sua própria música que, por sua vez, ganhou em qualidade.
Legal o texto.
Apenas quem viveu um pouco dos anos 80 tem a real noção da importância de George Michael para a música Pop. Faith, lançado em 1987, pelo jovem de 24 anos, vendeu mais de dez milhões de disco apenas nos Eua, e quase ofuscou o lançamento de outro grande disco, Bad, de M. Jackson. Faith, fez as vendas de discos dos Eua, crescerem em 3% a mais do que no ano anterior, e pra completar ainda ganhou o Grammy de álbum do ano. George Michael foi o grande astro dos anos 80, ao lado de Prince, Madonna, e M. Jackson. Mas, pra surpresa de todos os fãs, no seu segundo disco solo, lançado em 1990. Ele já nao queria ser importante, ele queria que a música dele fosse . E passou a não aparecer mais na capa do disco, nos clipes e em seus shows, cantava mais musicas dos outros do que as dele. Era uma nova fase, até que em 1991, quando veio se apresentar no Rock In Rio, conheceu Alsemo Felepa, a a vida dele tomou outros rumos, a música já nao era mais importante, e sim o coração.