AquarE.L.As da desconstrução
Fui ver as 20 aquarelas de cores quentes e frias da história intimista proposta por Leander Moura ao integrar artes plásticas, quadrinhos e instalação na exposição E.L.A, na Galeria de Arte do IFRN Cidade Alta, em Natal, aberta até o dia 17 de março (entrada gratuita)
O artista que se desconstrói para se reconstruir é aquele cuja alma pulsante deixa transbordar o excesso do que fora e se abre para os vazios incertos do que virá a ser.
Leander Moura, conhecido por seus traços monocromáticos que davam vida a narrativas de horror, abraçou aquarelas de cores quentes e frias para narrar uma história intimista na exposição E.L.A, que segue até o dia 17 de março na Galeria de Arte do IFRN Cidade Alta, em Natal.
A exposição foi pensada de maneira a integrar artes plásticas, quadrinhos e instalação, amarrados por várias chaves que caem do teto e abrem as portas da imaginação do visitante.
Os olhos percorrem as 20 aquarelas, em formato 16 x 24 cm, e leem imagens e palavras de uma trama densa, executada com leveza singular: uma menina tentando encontrar seu caminho na vida, descobrindo que cada etapa do caminho leva a uma nova perspectiva de si mesma.
Somente ao final ela se dá conta de que percorrer todo o caminho só foi possível através da sua constante recriação; ao deixar-se fragmentar para juntar pedaço soltos e, caleidoscopicamente, recompô-los em outra forma, tornando a memória válida ao despertar o sentir.
Chaves para abrir as portas da imaginação do visitante
Leander espalha as chaves entre imagens, páginas soltas de uma história em quadrinhos, e faz das calhas (aqui, espaços vazios entre cada painel de aquarela) momentos nos quais tanto a personagem quanto o leitor tentam achar a chave certa para abrir a continuação do que dará sentido ao todo.
E, tal qual a personagem, o leitor também entenderá que a chave certa não está materializada, posto que interna.
Após essa jornada do ser, Leander ainda traz um bônus (uma seção extra, como chamamos nos quadrinhos): o desdobramento da trama principal em imagens aquareladas coladas na parede, as quais se complementam em folhas encadernadas, fixadas ao teto como as chaves, trazendo situações de outras mulheres (ou será a menina crescida?) em busca de si.
Como complemento do bônus (Leander se multiplica para o leitor), há um expositor logo abaixo das imagens na parede, onde estão sketches vários que serviram de estudo para a exposição.
Se você leu as imagens em ordem diferente, não tem problema. Se as leu nessa ordem descrita aqui, volte ao IFRN e releia tudo novamente. Mas, mais do que reler e se encantar com imagens e cores, sinta-as. E, ao deixar a sala, permita que uma parte de você voe por algumas das janelas ali abertas. Saia leve. Desconstrua-se também.
Ah… Cristal e Leander, esse casal massa! Tudo que é feito de forma despretenciosa, mas com alma, torna-se incrivelmente tocante. Parabéns, Leander, por todo o sucesso que sua exposição está fazendo.
Olá, Milena, quero agradecer imensamente pelo retorno tão rápido deste singelo projeto. Nós sabemos muito bem como é duro trabalhar com arte em nosso país tão escasso de recursos no tocante ao seio cultural, mas a ordem é não desistir. E, foi justamente com esse pensamento que resolvi criar E.L.A, inicialmente uma HQ sci-fi (será publicada, mas sem data definida) e posteriormente tendo sido acrescida de uma proposta de exposição. Para minha surpresa o projeto tem sido muito bem recebido por um público bem heterogêneo, posto que é uma trama com um pensamento universal: a liberdade de escolha. No mais, parabéns pelo texto, captou toda a atmosfera da proposta.
oi Milena, sua percepção da exposição E.L.A, é incrível, você consegui captar a intenção de Leander Moura nas pinturas e sketchs, nas chaves e até nos espaços. Muito bom.