BAIRRO ALTO
Paulo de Tarso Correia de Melo
Quero o que possa haver
na secura de teu jeito
que eu possa transformar
em ternura no meu peito.
Quero até o amanhecer
na quentura de teu leito
ouvir-te me reprovar
todo o mal dito e o bem feito.
Voltarei ao anoitecer
à procura do direito
de insistir em retirar
do imperfeito, o perfeito.
Do Livro de Linhagens, que será lançado nesta quinta-feira (01) às 18 horas na Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Poesia é isso. O que não é isso pode até ser esterco ou verso, mas não é poesia!
Esse poema se encerra com uma espécie de tratado estético: retirar do imperfeito o perfeito. A aparente simplicidade da escrita (vocabulário cotidiano, tema tão direto) contém sutis tensões da Poesia: esses versos, aquele título, uma alusão descritiva que se metamorfoseia em profunda introspecção.
Paulo é um ótimo escritor e seu novo livro – como os anteriores – traz novas luzes da palavra. É Poesia porque nos escreve sem nem o sabermos. Ficamos sabendo, extasiados, depois que o lemos.
Belo poema.