Diante da situação
Amigos e amigas:
Recebi pela internet o texto “Situação FFLCH”, subscrito por dezenas de professores da FFLCH/USP. Não li o material no9 Forum de Debates dos Professores da FFLCH/USP (embora alguns dos que o assinam sejam colaboradores assíduos deste espaço), mandei uma seleção de trechos de poemas e canções para o endereço que me enviou aquele texto.
A FSP noticiou hoje o referido manifesto situacionista, caracterizando-o como dotado de “críticas ácidas à forma como as lideranças do movimento estudantil, ligadas a grupos ultraesquerdistas têm conduzido a mobilização por eleições diretas do futuro reitor da universidade”. O jornal não ouviu professores que discordam do manifesto, estilo específico de imprensa.
Reproduzo abaixo aos trechos de poemas e canções que enviei aos colegas que o assinaram, breve comentário sobre o que eles escreveram
Marcos Silva
História
DIANTE DA SITUAÇÃO (seleção de Marcos Silva)
“Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas”
(Carlos Drummond de Andrade, “No meio do caminho”)
“Quem sabe de tudo, não fale.
Quem não sabe nada, se cale.
Se for preciso eu repito.”
(Paulinho da Viola, “Para ver as meninas”)
“Males que contra mim vos conjurastes,
Quanto há de durar tão duro intento?”
(Luís de Camões, “Soneto”)
“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”
(Chico Buarque, “Construção”).
“O corvo grasnador e o mocho feio
O sapo berrador e a rã molesta,
São meus únicos sócios na floresta,
Onde carpindo estou, de angústia cheio”
(Bocage, “O corvo grasnador e o mocho feio”)
“É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo de nosso corpo”
(Macalé e Capinam, “Movimento de barcos”)
“Acostuma-te à lama que te espera”
(Augusto dos Anjos, “Versos íntimos”)
“Infelizmente, sou da classe média”
(Lamartine Babo, “Infelizmente”)
“Arcas soltas ao nevoento
Dilúvio do esquecimento”
(Cruz e Souza, “Litania dos pobres”)
“Quem inventou o amor
Não fui eu,
Não fui eu nem ninguém,
Não fui eu nem ninguém”.
(Dorival Caymmi, “Nem eu”).
“E o operário disse: Não!”
(Vinicius de Morais, “Operário em construção”)
“Brisa do mar,
Confidente de meu coração,
Me sinto capaz
De uma nova ilusão
Que também passará
Como ondas na beira do cais,
Juras, promessas canções,
Mas por onde andarás?”
(João Donato, “Brisa do mar”)
“Em torno de mim não tragas os teus raios”
(Joaquim de Sousâdrade, “Harpa XXXII”)
“Eu queria ser feliz.
Invento o mar,
Invento em mim
O sonhador”
(Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, “Cais”).
“Eu insulto as aristocracias cautelosas!”
(Mario de Andrade, “Ode ao burguês”)
“Paz na terra é o nunca se acabar
Do amor que a gente quer”
(Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, “Sinherê”).
“Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.”
(Cecília Meireles, “Canção da tarde”)
“Ah, que não seja meu
O mundo onde o amor morreu”
(Baden Powell e Vinicius de Morais, “Tempo de amor”)
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
(Álvaro de Campos, “Poema em linha reta”)
“E os urubus passeiam a tarde inteira entre os
Girassóis”
(Caetano Veloso, “Tropicália”).
“Sol de montanha
Sol esquivo de montanha”
(Oswald de Andrade, “Cântico dos cânticos para flauta e violão”)
“Quanto a você, da aristocracia,
Que tem dinheiro mas que não compra a alegria,
Há de seguir eternamente
Sendo escrava dessa gente
Que cultiva a hipocrisia”
(Noel Rosa, “Filosofia”)
“Meu tempo é quando”
(Vinicius de Morais, “Poética”)
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