Dos que se foram deixando lições
A vida vai avançando e os que ficam assistem a ida dos que primeiro embarcam para o horizonte que a fé nos faz enxergar. Cada um que vai, de fato, leva um pouco da memória do mundo e, de alguma forma, perdemos elos e informações relevantes.
Partiram, nos últimos dias, dois líderes que marcaram a história do Seridó em diferentes momentos. O primeiro, Antonio Willy Vale Saldanha, advogado e agropecuarista, Deputado Estadual por três legislaturas. O outro foi Francisco de Assis Medeiros, também advogado, ex-Prefeito de Caicó e Procurador do INSS. Exerceram, em momentos e formas diferentes, papéis destacados na vida seridoense.
Jardinense do piranhas, conversa privilegiada sobre as coisas do Seridó de ontem e de hoje, amante da boa música e fazedor de amigos, Willy se elegeu Deputado Estadual nas eleições de 1974, 1978 e 1982. Foi Presidente da Assembleia Legislativa e assumiu interinamente o Governo do Estado. Era de 1938, do dia 24 de julho, filho de Plinio Dantas Saldanha (1895-1959) e de Iraci Monteiro Vale (1908-1979).
Willy veio da tradição de Plínio, seu Pai, conhecido por “Marinheiro Saldanha”, que, no dizer do Advogado Jair Elói, “foi o maior empreendedor de todos os tempos de nossa terra. Milhares de hectares de terra, grande criador de gado vacum. Trazia as boiadas do Piauí, gado pé-duro, depois indu-brasil, gir. O maior plantador de algodão, usineiro. Mas, o ´Véio Marinheiro´, como afetivamente era tratado pelos seus amigos e conterrâneos, tinha o tirocínio político. Líder inconteste, Prefeito, Senador da República, não assumira o mandato, porque o amor pela sua ‘Esperas’, era maior. E mais grandiosa era seu amor por nossa Jardim. Que aliás, foi o grande planejador da Jardim de hoje.” Além de Willy e de Marinheiro, outros membros da família Saldanha participaram da vida pública do Rio Grande do Norte, dentre os quais, segundo o Jornalista Aluísio Lacerda, Francisco da Silva Saldanha no século dezenove (1874). “No século vinte, Benedito Dantas Saldanha, irmão de Plínio (Marinheiro Saldanha, pai de Willy), exerceu mandatos na Assembleia a partir da Constituinte de 1936. Beni, como era mais conhecido Benedito Saldanha, dono de terras nos municípios de Campo Grande e Caraúbas, também foi prefeito (nomeado) de Apodi. Nos anos 50/60, exerceu mandatos no parlamento estadual o ex-deputado Manoel Veras Saldanha, com forte influência política no Médio Oeste. Foi eleito deputado federal no pleito de 1966.”
Poucos dias depois de Willy, o chamado veio para Francisco de Assis Medeiros, Dr. Chiquinho, caicoense, também advogado, escritor e pesquisador das coisas da cidade e região. Foi Prefeito de Caicó, eleito em 1968, em uma das mais célebres disputas da história caicoense. Ainda sob a influência da morte de Carlindo Dantas, Dr. Chiquinho, apelidado de “Burra Cega”, orador dos mais festejados, com o apoio do Senador Dinarte de Medeiros Mariz, ganhou a Prefeitura por 72 votos contra Manoel Torres de Araújo, outro grande líder da terra caicoense que, nas eleições seguintes, chegou ao comando da edilidade.
Dr. Chiquinho (foto acima) foi um Prefeito à frente de seu tempo no que se refere a estruturar alternativas inovadoras para a época. São do período dele, por exemplo, as Fundações Carlindo de Souza Dantas e Dom José de Medeiros Delgado. A primeira, como a maioria sabe, encarregada de manter e gerenciar o Hospital do Seridó, dentre outras atribuições. A segunda, foi estruturada para trazer o Ensino Superior para Caicó. Algo, portanto, inovador nos anos de 1969 a 1973 quando exerceu o cargo de Prefeito de Caicó, além de outras iniciativas legais de estruturação do serviço público municipal.
Nos últimos anos, Dr. Chiquinho passou a escrever com maior frequência sobre fatos e personalidades do Seridó, constituindo importante acervo para estudos e pesquisas. Dos livros publicados, “Narrativas Seridoenses” já dispõe de duas edições e uma terceira pronta, mas, ainda, inédita. Na internet e nas páginas dos livros, seguramente, um legado escrito que proporciona a compreensão de fatos do passado, suas repercussões no presente e o encadeamento de leituras para a consolidação da história de Caicó e Região.
Por derradeiro, uma simples e despretensiosa observação: os homens públicos do Seridó, como Willy Saldanha e Francisco de Assis Medeiros, com formação intelectual e moral, conhecedores de nossa história e tradições, fazem falta, assunto que deveria receber nossa mais apurada atenção.
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