E eu com isso?
As pessoas comemoram corpos esquartejados no presídio, do mesmo jeito que comemoram o AVC da ex-primeira dama do Brasil. Gente que se diz cidadã de bem, que trabalha, paga impostos, vai à missa ou ao culto, que é temente a Deus.
Aliás, Good Citizen era o nome do jornal veiculado por grupos que deram origem ao Ku Klux Klan (que pregava a superioridade branca, ultrarreacionário e extremista), e que me parece ser reeditado todos os dias em opiniões e posturas nas redes sociais, quando o assunto é a condição humana daqueles que não são espelho.
A gente só é e faz aquilo que chegou primeiro em pensamentos e palavras.
A barbárie começa quando olhamos para o menino pedindo esmola no canteiro, pensamos que ele vai nos roubar e, em seguida, dizemos: “Tão novinho, já se encaminhando para o crime”.
Se eu não tenho a capacidade de transferir para outras pessoas os mesmos sentimentos e sentidos que me tornam humana, que me fazem ter fome, sede, frio, medo, dor, desejos, necessidades, satisfação, essa outra pessoa passa a ser uma coisa que pode ser decepada, esquartejada e queimada. Ela não é mais um ser humano.
E eu nem sinto culpa em julgá-la inepta ou inapta pra vida, e de desejar ou vibrar com sua morte. E me esqueço também de que viver em condições subumanas, sem água, com comida precária, sem o convívio da família, dentro de verdadeiras jaulas, na companhia de estranhos perigosos, não será uma situação que se encaixe como antídoto contra a violência e a recuperação social.
Moralismo & violência
E se alguém que me lê agora pensa em me mandar “levar um assassino para casa”, peço que, antes de me julgar por não compactuar com falsos discursos moralistas e nem incitar a violência, ou não concordar com a barbárie, com a pena capital ou com o extermínio dos violentos com mais violência, que leve pra rua um pouco mais de tolerância e empatia.
Se você, cidadão de bem, se imagina acima do mal e que não comete erros ou deslizes, que ao menos se coloque no lugar daqueles que são pais, filhos, mães, irmãos e amigos de pessoas criminosas e que estão ‘pagando’ suas penas nos presídios ‘resorts’ brasileiros.
Pense na dor dessas pessoas antes de sair comemorando a morte de seres humanos. A barbárie dos gestos começa no discurso.
O que acontece por lá tem muito a ver com o que você pensa e diz por aqui.
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