Muitos escritores, poucos leitores
Por Belchior de Vasconcelos Leite
A velocidade encurtou as distâncias, o mundo já não é tão vasto como o de nossos antepassados, hoje, nem somos rimas, nem soluções, tudo acontece como um relâmpago, apagando-se da memória as emoções, dando lugar a outros acontecimentos, que se evaporam como éter, assim, vamos passando desapercebidos, alienados pela a vida.
São tantas as informações , os apelos, que ficamos tontos e distantes, pelo bombardeio das mídias. Nesse contexto, qual o objetivo de insistir em escrever? Observo existir um boom pela escrita, principalmente com o advento dos blogs, desproporcional à leitura.
Por que e pra quem escrevemos? O que queremos comunicar? Fico a indagar respostas a esses questionamentos. Ao mesmo tempo responder a alguns amigos que compram de mim, o exercício da escrita, sobre a alegação de gostar tanto do ato de ler.
Acredito ser a imortalidade o maior desejo do Homem. O ser humano não se conforma com sua única certeza: a morte. Todos seus fazeres são tentativas de perpetuação. Daí, advir todo seu repúdio, à maioria das vezes, ao anonimato, solidão e contemplação.
Vejo na escrita um exercício catártico e de perpetuação. Se for verdadeiro ser o texto uma catarse, não precisamos de leitores, escrevemos para nós mesmos, se for para nos perpetuamos é uma ilusão. Na vida tudo passa e se repete. Não existe originalidade, a não ser na tradição. O que temos a comunicar? O senso comum? A psicopatologia do cotidiano? “não há nada de novo sob o sol”.
Então , escrever é fuga, fuga de nós mesmo. No meu caso, faltam-me engenho e arte. E finalizo com Borges: jacto-me mais com que leio, do que com que escrevo.
Belchior foi meu professor no Celestino Pimentel, bairro cidade da esperança, anos 70. Belo texto.
Abração!
Vai lá, amigo Belchior, teu texto é limpo e honesto.Abs.