Mulheres debatem mercado fotográfico
Mulheres profissionais da fotografia tiveram seu dia comemorado no último dia 16 no primeiro Fotografia em Debate.
Eu estava entre as convidadas do evento (Veja ensaio Toda Fauna-Flora Grita de Amor), realizado pelo Margem-Hub de Fotografia, em Lagoa Nova, aqui em Natal.
As outras profissionais que responderam perguntas do público foram Elisa Elsie e Luana Tayze. Entre as questões levantadas, temas mais recorrentes diziam respeito às condições do mercado de trabalho de fotografia e dificuldades da profissão.
De maneira espontânea, as respostas trouxeram relatos que evidenciam o machismo ainda presente no cotidiano das profissionais de fotografia, tanto entre colegas de profissão quanto nas ofertas e visibilidade do trabalho feminino no Rio Grande do Norte.
“Nossos colegas elogiam nosso trabalho, porém nunca podemos ser melhores que eles”, fala Elisa Elsie.
Foram expostas situações de assédio e hostilidade sofridas por profissionais, bem como julgamentos abertos sobre a (in)capacidade feminina em ‘aguentar’ ou conseguir realizar trabalhos tradicionalmente dominados pelo gênero masculino.
Imagem de capa: A fotografia “Deseixo”, de Luisa Medeiros, venceu o Festival Internacional Paraty em Foco. Pertence ao projeto autoral “O Belo Disforme”, um reivindicação por respeito e amor por todos os corpos, formas, raças, gêneros e orientações sexuais.
Isso reflete uma concepção mais radical e difundida na sociedade de que o homem é hierarquicamente superior à mulher em praticamente todos os aspectos.
Essa experiência me fez rememorar um episódio enquanto eu cobria um clássico ABC X América, em que um colega tentou sabotar meu trabalho na ocasião, colocando o pé para que eu tropeçasse, em um momento decisivo da partida.
“É um absurdo que isso ainda aconteça, aprendi a não aceitar esse tipo de situação e exigir o respeito que eu mereço”, diz Elisa Elsie durante o debate.

Articulação entre mulheres
Vivenciar esse espaço de troca de experiências provocou em mim o aparecimento ou intensificação de inúmeras reflexões, especialmente sobre a invisibilização da fotografia feminina no Rio Grande do Norte.
A potência que uma articulação local de mulheres poderia conceder para as profissionais potiguares seria enorme. Duas situações com as quais tive contato são emblemáticas para a situação atual das fotógrafas conterrâneas.
A primeira ocorreu com Luisa Medeiros, ganhadora na categoria Foto Única no Festival Internacional Paraty em Foco. Nenhum veículo de mídia local ou grupos de fotografia do Estado noticiou sua conquista.
Conheça mais do trabalho das fotógrafas desta publicação (Instagram)
Luísa Medeiros: @_luisamfotografia
Laíne Paiva: @lainepaiva
Luana Tayze: @luanatayze
Laíza Ferreira: @laihza
Ana Luiza: @annalu_4
A segunda é o relato de Laíne Paiva, procurada por uma instituição que desejava usar uma foto sua para a divulgação de um projeto.
Laine concordou, solicitando apenas que pusessem os créditos na imagem, o que foi negado pela instituição sob a alegação de suposta “poluição visual”. Justificativa que não se sustentou uma vez que utilizaram a foto de um outro profissional, do sexo masculino, creditando a imagem.
O trabalho feminino com fotografia é frequentemente limitado ao nicho da “fotografia familiar”, em books, festas de 15 anos, trabalhos com bebê, o que, apesar de ser uma modalidade completamente relevante e repleta de possibilidades, reforça estruturas de dominação profissional, inibindo uma exploração mais ampla do ofício por parte das mulheres
“Quando comecei a fotografar festivais foi muito difícil, pois os homens que trabalhavam neles sempre diziam que eu não iria conseguir, por ser muito jovem e mulher. Pensei em desistir, mas tive muito apoio das mulheres que trabalhavam também nestes eventos e graças a elas tive força para continuar”, confessa Luana Tayze.

Transformar estruturas de dominação
Devido a esses fatores e relatos, ressoando com minhas vivências na profissão, entendi ser imprescindível a articulação organizada das mulheres no sentido de visibilizar, apoiar e criar espaços para a fotografia feminina no Rio Grande do Norte.
Unidas em coletivos, de forma a conceder força às profissionais e transformar estruturas vigentes de dominação nessa atividade, buscando conquistar ambientes de igualdade no exercício profissional.
Importante pontuar que esses movimentos propostos não objetivam disputar ou competir com qualquer grupo, mas dar voz às profissionais que permanecem invisíveis pelo simples fato de serem mulheres.


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