“Painho”, de Magno Catão
Painho
rochas e pedras
não são a mesma coisa
talvez em outros poemas
poemas desavisados
longe dos sites de busca
Painho
eu sei que eu falo a língua das pedras
e você, a língua das rochas
por isso tão similares
na economia das palavras
e olhares bruscos de soslaio
por isso tão distintos
na percepção das cores do mundo
e no ritmo com que descemos as escadas
esta casa, nossa casa
feita de cerâmica, tijolos, telhas
e as suas rochas e as minhas pedras
dizem que as casas podem ser
lúdicas demais, pulsantes demais
a nossa casa foi feita de silêncio
e não é culpa das rochas
não é culpa das pedras
talvez sejamos a ternura dos minerais
Painho
esta casa talvez ainda
não tenha um nome
eu sei que há nomes
que levam tempo
leveza e voos da mente
eu não sei ainda
se um nome-âmbar
se um nome-quartzo
se berilo, calcedônia
cristais, cobres
se um nome-ferro
mas eu gostei deste:
celestina, dizem,
usado em fogos de artifício
celestina: azul da cor do céu
celestina: explode no ano novo
em cores vermelhas e vivas
Painho
pode este ser o nosso nome
e a nossa tradução, ainda que emudecida
Celestina: a fogueira flutuante do céu
fogos de vista vermelhos vindos de um intenso azul
nesta casa, na nossa casa, no nosso poema.
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