Pílulas para o Silêncio (Parte CXVI)
País de agosto
Que o poema vista de domingo cada dia
e atire foguetes para dentro do quotidiano.
Que o poema vista a prosa de poesia
ao menos uma vez em cada ano.
(Manuel Alegre, em País de Abril)
Que o desgosto de agosto não enterre a semente da desesperança no terreno fértil de tantos desenganos. Assim espero, assim recitarei.
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Que o mofo do cotidiano não azede o leite das nossas utopias; e, caso isto se dê, que tal coalhada seja servida em mesas fartas e limpas. Assim espero, assim professarei.
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Que o poema seja capaz de instilar, em nossas manchetes e matérias de jornais, em nossas cartas, até em nossos bilhetes suicidas, a suprema engenhosidade de converter a prosa vetusta e árida em límpida e balsâmica poesia. Assim espero, assim o farei.
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E, quando agosto passar, ele não deixará nem o menor rasto de sua maligna epifania.
Ilustração: escultura da artista alemã Rebecca Horn, Barcelona, Espanha.
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