POETA DA SEMANA – Cefas Carvalho
Cefas Carvalho é escritor, jornalista e poeta. Nasceu em São Paulo por acaso mas mora em Natal “desde sempre”. Tem 5 livros publicados, “Ponto de fuga”, “Três”, “Reinvenções”, “Carla Lescaut” e “Encontos e desencontos”. É coordenador do Concurso de Poesia Zila Mamede e atualmente é editor-chefe do jornal Potiguar Notícias. Prepara o lançamento do romance “Os olhos salgados”, vencedor do Concurso Câmara Cascudo (Funcarte), edição 2011-2012.
PESO
de cansaço
em cansaço
envergo-me
nem de aço
nem de ferro…
(enxergo-me
aos pedaços)
não grito
nem berro
silencio
do fruto,
o bagaço
regurgito
(de cio
em cio
copulo
e reproduzo
aflito
vazio
me anulo
e acuso)
SISMOLOGIA
entendo de vazios
de fomes
e de cios
alimento bestas
engulo abelhas
e trovões
sei de abismos
desfiladeiros, depressões
de sismos, de frações
e de inteiros
entre terremotos
abalos sísmicos
e devaneios
forjo meu paraíso
nos escombros
e nos entremeios
ECLAMPSE
gerado
na lama
o verso
não germinou
(ao inverso…
o arado
a grama
renovou)
o verso
indigitado
fez a cama
e brotou
QUARTETO DE DEGUSTAÇÃO
1
O que me engole e devora
É o súbito, o indigitado
O alimento que me apavora
O vômito regurgitado
2
O que me tange e apascenta
É o cajado, adestrado
Cujo golpe me arrebenta
Como o verbo bem amado
3
O que me desce à garganta
É a vida, mal mastigada
Que ainda nos espanta
E faz de nós quase nada
4
O que me sustenta e redime
É o verso em decomposição
Como quem comete um crime
E sonha com a redenção
DIALETO
na garganta
o grito
guardado
retorna
morna saliva
deglutida
na janta
o dialeto impelido
e travado
na traqueia
tanta
ideia
banal
latim desperdiçado
publicado
no jornal
BÚSSOLA
perco o lastro,
o senso, o rumo
perco o norte,
o barco, o trem
(penso na vida
e na morte
venho e sumo
aqui, além
parco, tenso
sul e norte
leme, mastro…
de partida)
Gosto da concisão destes poemas ora apresentados, e percebi em alguns deles um ritmo que, com um violonista do lado, poderiam virar canções. De uma maneira geral, os textos de Cefas me agradam, e quando se trata de interpretar o contexto social e político em que estamos inseridos neste momento, ele me representa. Parabéns ao poeta e ao jornalista.