Saia do armário
Fotografia: Joanisa Prates, na Ação Performativa contra a PEC 241, no Deart (UFRN)
Quando vejo alguém defendendo essa PEC 241 do governo ilegítimo, usando dois argumentos cabais: o primeiro, que é necessário parar com a ‘gastança’ feita pelo Governo anterior e, segundo, comparando com os gastos de nossa casa, me vêm alguns pensamentos: ignorância total ou, o que é mais provável, má fé, oportunismo, canalhice e politicagem.
E, atenção, essas informações você não terá acesso assistindo ao Willian Bonner.
Corremos riscos de congelamento em políticas públicas, certo?
Salário mínimo, saúde, educação, assistência social, cultura.
O que ninguém fala é que se a arrecadação continuar caindo mais do que o corte que foi feito, nada disso vai adiantar.
Utilizemos os mesmos argumentos dos defensores dessa PEC cruel para que o Brasil ‘volte a crescer’.
Se um dono de casa resolve fazer economia em seu lar, ele vai diminuir gastos com a educação, com a saúde, a comida e o transporte?
Ou ele cortaria o que, digamos, é excedente?
Estranho pensar em corte de gastos justamente quando esses cortes atingem tão somente a classe trabalhadora?
E não falo só de operários.
Falo com você, que vive de salário, que tem carro e casa financiados, que faz compra divididas em cartão de crédito, que planeja férias dois anos antes e que pensa que porque tem um SUV financiado em 36 meses, faz parte da casta de ricos e da ‘elitche’.
Você já parou para pensar que enquanto estão planejando congelar os recursos do SUS – aquele serviço público que manda a ambulância socorrer os acidentados de trânsito, por exemplo, antes da sua home care pensar em atender seus telefonemas, o Judiciário e o Legislativo não estão sofrendo nenhum tipo de corte na gastança pública?
Muito pelo contrário.
Você que é pensionista e está chateado por conta dos parcos reajustes, já percebeu que estão botando a culpa na Previdência?
Ou, já se tocou que, sem investimentos na segurança, policiais civis e militares, agentes e delegados terão argumentos de paralisação ainda mais contundentes?
E haja violência.
Você que reclama de passar duas ou três horas numa clínica médica, esperando seu médico, já pensou que se os Planos de Saúde – que já repassam tão mal para os profissionais cooperados – tiverem ainda mais mercado, que isso piorará ainda mais?
A PEC 241, que limita o aumento das despesas do governo à inflação do ano anterior por um período de 20 anos, é uma crueldade.
O descontrole das contas governamentais não é fruto da despesa, e sim da receita, da arrecadação.
Tem ideia de que enquanto você paga imposto da garrafa de água mineral à alíquota anual do IRPF; o rico ganhador de dividendos não tem taxação alguma, nos milhares de reais que embolsa?
Você sabe o quanto de juros pagamos para a dívida externa?
Saia do armário da ignorância, meu amigo.
Pense.
Diga não à proposta que vai aniquilar o que você já conquistou em 27 anos de Constituição.
Comentários