Psicanálise selvagem e Literatura
Amigos e amigas:
A partir de um comentário no Balaio Porreta e de uma mensagem pessoal que recebi, tomei conhecimento de textos sobre o escritor Ney Leandro de Castro, publicados na Imprensa escrita de Natal e reproduzidos no blog de Franklin Jorge, mais comentários. Li alguns desses textos no último blog.
São referências pessoais em tom de deboche e difamação que não cabem no espaço público.
Ney é um escritor importante e tive a oportunidade de comentar seu bom romance “As pelejas de Ojuara”. Antes desse romance, ele construiu uma obra poética de peso e lembro do impacto que senti quando li um de seus primeiros livros – “O pastor e a flauta”.
Fazer insinuações públicas sobre a sexualidade alheia é gratuito e mesquinho, ainda mais quando isso envolve alusões pejorativas à velhice e à intimidade. Ser velho não é defeito nem qualidade, é circunstância acidental de quem não morrer jovem – aconselho os anti-velhos a se matarem enquanto é tempo de não chegarem à velhice.
A intimidade de um escritor não interessa à opinião pública. Tenho escrito alguns textos sobre Rimbaud e detesto o frenesi em torno da sexualidade desse grande escritor, como se ele escrevesse com o falo ou outra zona erógena de seu corpo. Ele mesmo nos ensinou: o eu é um outro. O grande poeta Fernando Pessoa levou além essa lição: inventou heterônimos – o eu do poeta é ficção de sua poesia. Isso interessa. A suposta intimidade real (adivinhada em bola de cristal, provavelmente) é matéria para pessoas de escassa imaginação e erudição nula. Sigmund Freud falou, de forma erudita, sobre usos absurdos da Psicanálise em comentários sem fundamento a propósito do inconsciente e da sexualidade alheios – “Psicanálise silvestre”, in: Cinco lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos. Tradução sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1970, pp 205/213 (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas – XI).
Ney, escritor importante, merece ter suas obras analisadas literariamente. Tenho discordado civilizadamente de posturas políticas que ele assumiu em entrevistas mas jamais passou por minha cabeça diminuir o peso de seus escritos.
Precisamos garantir um nível de dignidade no debate público. Fofocas sobre a genitália alheia são ocupações de gente que não tem argumentos eruditos para apresentar sobre a obra dos outros. As piores revistas e os piores programas televisivos sobre celebridades se dedicam a isso. Não merecemos ver o universo reduzido a tal lixo mental.
A melhor resposta àquelas falas medonhas é lermos decentemente Ney e escrevermos decentemente sobre Ney. Ele merece e nós merecemos decência argumentativa.
Abraços a todos e todas:
parabéns pelo site!
Valeu Ligia. Se puder, divulgue com os amigos e conhecidos. Participe também! Abraço, TC
pois é… mas não me parece nada literário… nem o tocante à sexualidade, nem a questão geracional, ou mesmo pseudônimos e estilística. ficou parecendo revista de fofoca. é lamentável.
ainda bem que a gente escolhe se vai ler “tititi”, “contigo!”, folha escrota, jornalões ou o que vier de melhor.
abraços.
Oi João, li sim. Estava me referindo à situação anterior à seção de cartas de hoje no Novo Jornal. Um abraço. Sheyla.
Caro Marcos, concordo com suas letras. Outro abraço.
Sheila, você leu o Novo Jornal de Hoje dia 06?
Veja lá o retrato do Ney e os seus comentários.
Sheyla:
Não sabia desse episódio que vc menciona. Discordo do apelo a orientações sexuais por qualquer das partes envolvidas no bate-boca. Seria interessante colocar a questão no nível adequado de briga de boteco e proteger a Imprensa desses vexames. Defendo que a vida privada das pessoas não é de interesse público – não suporto aqueles noticiários sobre quem traiu quem etc.
Abraços:
Marcos
Acho que está ocorrendo um equívoco quanto a quem começou o quê. Até onde eu sei essa “peleja” começou pelo próprio Ney, em texto publicado na Tribuna no qual ele chamava Franklin de “Franguinho Jorge” e fazia alusões vexatórias sobre a sua orientação sexual.
E, João da Mata, queria lhe informar como jornalista do Novo Jornal que não foi exatamente um pedido o que Ney fez ao Novo Jornal. E até onde eu tenho lido nos textos do Franklin, ele estava mantendo a discussão no âmbito literário e em nenhum momento estava afetando a moral do afamado e respeitado escritor potiguar, Ney Leandro de Castro.
Resolvi sair da minha costumeira condição de leitora do Substantivo para dar minha opinião sobre essa situação que eu acho não enobrece – nem reconhece – o valor literário e jornalístico de nenhum dos dois envolvidos.
Sheyla Azevedo, jornalista.
Sou fã de Pelejas de Ojuara (a versão sem censura). O que não falta é invejosos. O cara conseguiu falar de nossa cultura a nivel nacional, de forma muito engraçada, deveria ser motivo de orgulho… Quem apela para a sexualidade do autor, é porque é inseguro quanto a sua própria. Abs.
Caro Marcos Silva,
Concordo plenamente com voce e com os comentários postados pelo anonimo no blog Balaio Vermelho. Nei Leandro não merece esses achincalhes pessoais que beiram á insanidade mental e preconceituosa.
Ney é um grande escritor e merece respeito.
Quem nunca escreveu assumindo o outro?
Ney pediu ao Novo Jornal que parasse de lhe difamar.
E a resposta do Jornal: Não podemos em nome da liberdade de expressão.
Gostaria de saber se podemos falar de Zé Agripino e outros em nome dessa liberdade?