Viagem à Belém do Pará
– 50 anos da revolução Cubana
– 25 anos do MST
VII – Viajante Contumaz
O Fórum Social Mundial (FSM) pela primeira vez é realizado no norte do Brasil, na cidade de Belém-PA. Região da Amazônia brasileira de grande importância cultural e da biodiversidade. A Pan-Amazônia esteve em evidencia durante todo o encontro. O Fórum acontece num momento em que o mundo passa por sérias crises econômicas, sociais e políticas. O modelo neoliberal e o capitalismo estão em xeque. Há mesmo quem acredite que a crise é civilizatória e, sobretudo, ética . Um novo modelo de crescimento sustentável precisa urgentemente ser pensado. Só mudaremos o mundo quando pudermos mudar as consciências. E, o FSM, é um grande passo nessa direção. Um evento da maior significação política.
Belém, cidade de fortes contrastes sociais e povo acolhedor, transformou-se numa grande festa com a presença de todas as tribos, povos e raças. Cientistas, políticos, professores, estudantes e população em geral discutiram os temas mais importantes da atualidade. Pessoas das mais diferentes partes do mundo estavam presentes. Todos os sotaques com um mesmo objetivo: melhorar e pensar as condições de vida do planeta Terra.
Cuba festejou em grande estilo os 50 anos da revolução. A pan-Amazônia esteve em evidencia durante todos os dias do evento. Uma exposição em 68 imagens faz um registro histórico da revolução cubana. Belas fotografias do Korda, Raúl Corrales, Osvaldo Salas, Roberto Salas, Ernesto Fernández, Libório Noval, Perfecto Romero e José Agraz Solans mostram os grandes protagonista desta historia.
Na mesma tenda “Casa Cuba 50 Aniversário” acontecem outros importantes debates. Uma bonita homenagem a Chico Mendes com a plantação de cinco seringueiras quer simbolizar a unidade dos povos do mundo e o compromisso com a sustentabilidade do planeta Terra, uma luta pela qual morreu Chico Mendes. O poema “O grito verde que anda” do Pedro Tierra é recitado. Fico emocionado quando tocam a música Guajira Guantanamera.
Uma outra exposição na UFPA mostra detalhes sobre os anos da ditadura no Brasil. Importante para que os jovens conheçam uma realidade recente do Brasil. Junto ás fortes imagens, trechos de músicas de época. A mostra faz parte do projeto “Direito á memória e a verdade”, da presidência da república. Cinqüenta mil pessoas foram presas nos primeiros anos do regime militar, 356 mortos e vinte mil submetidos à tortura. Uma história que não podemos esquecer.
No dia 27 de janeiro de 2009 participo da grande marcha de abertura do Fórum Mundial, debaixo de forte chuva. Milhares de pessoas vibrantes e felizes vindos de todos os cantos do planeta se molhavam e torciam por um mundo melhor. O banho de chuva podia está simbolizando esse novo amanhecer. Faixas, cartazes, bandeiras de partidos, mascaras, cantos e batuques inauguravam o primeiro dia do evento. A grande presença de jovens é contagiante. A cidade de Belém se transforma numa festa. Um forte esquema de segurança é montado.
A maior parte dos eventos de que participo acontecem nas universidades federal e rural do Pará, UFPA e UFRA. Ao lado da universidade tem uma grande área invadida pela população carente: a Terra Firme. Região perigosa e de grande violência. Uma região que no Pará é chamada de linha vermelha. A cidade é dividida. O grande centro de convenções “Hangar” contrasta com a mais absoluta pobreza.
O Fórum Mundial tem uma extensa programação para todos os gostos. A organização precisa melhorar. Alguns eventos agendados são cancelados. Outros mudaram de local devido ao local do encontro mundial ser exíguo para tantos participantes.
O MST comemora 25 anos e propõe uma nova matriz tecnológica. O agronegócio não garante o desenvolvimento, diz Marina Silva, uma das representantes mais festejadas do encontro. Escolas para a educação dos assentados são planejadas. Na tenda da Irmã Dorothy assisto uma importante palestra do autor de Rio Maria, Ricardo Rezende Figueira. Ricardo faz um levantamento minucioso dos mortos em função da Terra. A reforma agrária avançou pouco. Um documentário sobre a irmã Dorothy, com a presença de seu irmão, é apresentado em um outro local. Compro um livro sobre a sua vida e assassinato. Um livro que fala do projeto de desenvolvimento sustentável PDS desenvolvido pela missionária americana. Muita coisa ainda precisa ser feita. A Amazônia é uma riqueza inestimável. As grandes madeireiras financiadas pelo BNDES precisam ser repensadas. A mata destruída para a fábrica de celulose polui e não se transforma em livros. A crise é mundial. Uma crise energética, ambiental, cultural e política. Um novo mundo precisa ser re-inventado. O FSM é um importante instrumento dessa transformação.
O Fórum Mundial de Belém discutiu e propôs democraticamente as mudanças necessárias para um desenvolvimento sustentável. Um encontro da maior significação política. Está de parabéns o povo paraense e todos aqueles que a creditam que um outro mundo é possível.
De um provérbio africano lido no FSM: “Os pés não vão onde o coração não quer”.
O Mercado de Ver- o -Peso
O mercado de Ver-o-Peso é uma atração á parte em Belém do Pará. Uma grande variedade de peixes, muitas farinhas, frutas e a cheirosinha. Nas barracas da cheirosinha você encontra ervas para todos os males do corpo e da alma. Uma mistura de aromas feitos de muitas ervas e plantas ornamentais e medicinais. A simpatia da vendedora de cheiros me enternece. Depois de cheirar bem, uma pausa para comer um peixe frito com açaí. A visão do rio e barcos é deslumbrante. O suco pode ser de taperebá, bacuri, pitanga e outras frutas deliciosas.
No outro dia a travessia para a ilha de Marajó. A viagem dura o dia inteiro e o passeio de navio é maravilhoso e repousante. No pouco tempo que temos uma rápida (na onça) passagem por algumas cidades mais próximas e visita á casas remanescente do extinto e rico artesanato marajoara. Compro uma bela tartaruga que dizem dá sorte. Ilha de búfalos e muitas lendas. Ilha onde fico sabendo se pratica a pedofilia. O queijo de leite de búfalo é maravilhoso.
Belém do Pará
Fevereiro de 2009